A Escola de Enfermagem de Lisboa da Universidade Católica Portuguesa apresentou na passada sexta-feira, dia 23 de março de 2018, os resultados do estudo “A Saúde Mental dos Enfermeiros Portugueses”.
Este estudo foi realizado por um grupo de investigadores do “Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde” (CIIS) desta Universidade, constituído pelo Prof. Doutor Paulo Seabra, Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental (coordenador do estudo; Universidade Católica Portuguesa), pelo Prof. Doutor Joaquim de Oliveira Lopes, Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental (Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal) e pela Dra. Mariana Calado, Enfermeira (Hospital da Luz Lisboa).
É o maior estudo feito até hoje sobre a saúde mental dos enfermeiros portugueses. Decorreu em 2017, contando com uma amostra de 1264 participantes.
As principais conclusões indicam que:
Dos 1264 enfermeiros do estudo, quase dois terços (60,6%) assinala uma perceção negativa da sua saúde mental.
Destes:
- 94,1% tem a perceção de sofrer de disfunção social;
- 76% tem a perceção de sofrer de ansiedade e insónia;
- 71,6% tem a perceção de sofrer de sintomatologia somática;
- 22,2% tem a perceção de sofrer de sintomatologia de depressão grave.
Dos enfermeiros que fazem turnos, 90,5% considera que não dorme o suficiente entre turnos de noite seguidos e 79,6% considera que não dorme o suficiente entre turnos de manhã seguidos. Dos enfermeiros que não fazem turnos, 81,5% considera que não dorme o suficiente.
Quase metade dos enfermeiros (45,7%) referiu, quando solicitado para se comparar com a maioria das pessoas, que tende a sentir-se cansado mais cedo do que a maior parte das pessoas ao final do dia, e um terço (32,2%) considera ser do tipo de pessoa que adormece facilmente em qualquer lugar.
Mais de um terço dos enfermeiros (38%) considera sofrer de pelo menos uma doença (física ou mental). As doenças/perturbações relacionadas com o humor e as doenças/ perturbações de ansiedade representam aproximadamente um quinto das doenças assinaladas.
Da amostra total e quando questionados para identificar as doenças que têm, 4,6% dos enfermeiros assinalou que sofre de perturbação do humor, 2,3% sofre de perturbação de ansiedade e 0,15% de perturbação do comportamento alimentar (Total 7.05%).
No que se refere à perceção de saúde mental dos enfermeiros, face às variáveis socioprofissionais, verifica-se que:
A sintomatologia associada à depressão grave aumenta com a idade e com o tempo de exercício profissional.
O exercício profissional em contextos hospitalares relaciona-se com mais sintomas somáticos (tais como sintomas inespecíficos negativos do seu estado de saúde, falta de energia, cefaleias, variações na temperatura corporal).
Ter formação especializada associa-se a melhor saúde mental (menos sintomas somáticos). Os enfermeiros especialistas que exercem a sua especialidade apresentam também a perceção de melhor saúde mental (menos sintomas somáticos e de disfunção social) que aqueles que não exercem a sua especialidade.
Os enfermeiros especialistas em enfermagem de saúde materna e obstétrica são os que assinalam ter uma pior saúde mental.
Os enfermeiros especialistas em enfermagem de saúde mental e psiquiátrica são os que assinalam a percepção de uma melhor saúde mental.
Os enfermeiros da Secção Regional (SR) dos Açores são os que têm a percepção de uma melhor saúde mental. Seguem-se, por ordem decrescente, os da SR da Madeira, da SR do Sul, da SR do Centro e, por fim, os da SR do Norte que são os enfermeiros que têm a percepção de terem uma pior saúde mental.